segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Boneca de pano


Talvez eu seja uma boneca de pano, cujo coração foi roubado. E um rombo gigantesco foi deixado em meu peito. De repente, veio uma dor forte e se instalou em mim. E ficou, em cada metro do meu corpo rendado, com meus panos e babados. Os meus vestidos passaram a ser mais escuros, independente do cair da noite ou do levantar do dia. Eles só eram propícios se mais perto do negro que me abrangia. Chegou uma hora que não os quis mais trocar, não fazia diferença.
Todo dia eu acordava e botava minha mão sobre meu peito, apertava-o, e não sentia nada. Até que, em uma noite pouco escura e menos sombria, eu vi um clarão no canto da minha cama. Cheguei minhas mãos até ele, e encontrei, ali, meu coração. Abri meu armário, peguei minha caixa de costura e retirei a atadura de papel que cobria meu peito de pano. Coloquei meu coração de volta e o costurei, cuidadosamente. Talvez eu realmente seja essa boneca de pano com coração rasgado. Porque, sim, ele voltou pra mim, sim, meus vestidos e panos o cobrem, eu o abrigo. Mas não o sinto assim. Ele voltou intacto e esse foi o problema. O coração da triste boneca de pano não fora amado como amara, não fora desejado como desejara, e não teve o que quis.
O coração da boneca não era nada alem de um pedaço fofo de pano, em formato reconhecivel. Ele não fora modificado, e pior, não fora roubado.
A bonequinha queria que alguém a amasse como ela o amaria e, para isso, teria de ter consigo uma parte do seu coração. Mas, vendo-o voltar intacto, percebeu que sua missão fora imcompleta, sem sucesso. Talvez eu realmente seja essa boneca de pano, cuja o coração roubado não foi amado, cujas pessoas em volta não se misturam, cujo caminho é um ponto de interrogação. E principalmente, cuja procura será guiada até que encontre aquele pedacinho mínimo de seu coração, que ainda não percebeu sumir, mas que fora roubado, discretamente, para ser modificado, tocado e amado

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